Recordo o luminoso instante
quando eu, tomado de surpresa,
te vi: súbita imagem, diante
de mim, da essência da beleza.
Desesperado e triste, a sós
no caos do mundo, ouvi durante
anos, em mim, a tua voz,
vi, no meu sonho, teu semblante.
Passou o tempo; um vento atroz
varreu meu sonho ao seu talante,
e não ouvi mais tua voz,
deixei de ver o teu semblante.
Minha existência se esvaía
no exilio inóspito e incolor,
sem vida, lágrimas, poesia,
sem divindade nem amor.
Reapareceste e nesse instante
minha alma despertou surpresa;
revi, súbita imagem distante
de mim, a essência da beleza.
Meu peito, cheio de alegria,
bate de novo; há no interior
dele outra vez vida, poesia,
lágrimas, divindade, amor.
Я помню чудное мгновенье:
Передо мной явилась ты,
Как мимолетное виденье,
Как гений чистой красоты.
В томленьях грусти безнадежной,
В тревогах шумной суеты,
Звучал мне долго голос нежный
И снились милые черты.
Шли годы. Бурь порыв мятежный
Рассеял прежние мечты,
И я забыл твой голос нежный,
Твои небесные черты.
В глуши, во мраке заточенья
Тянулись тихо дни мои
Без божества, без вдохновенья,
Без слез, без жизни, без любви.
Душе настало пробужденье:
И вот опять явилась ты,
Как мимолетное виденье,
Как гений чистой красоты.
И сердце бьется в упоенье,
И для него воскресли вновь
И божество, и вдохновенье,
И жизнь, и слезы, и любовь.
«No templo de naves escuras, / Celebro um rito singelo. / Aguardo a Dama Formosura / À luz dos velários vermelhos. À sombra das colunas altas, / Vacilo aos portais que se abrem. / E me contempla iluminada / Ela, seu sonho, sua imagem. Acostumei-me a esta casula / Da majestosa Espos...»
«No prédio há janelas citrinas. / E à noite — quando cai a noite, / Rangem aldravas pensativas, / Homens aproximam-se afoitos. E os portões fechados, severos; / Do muro — do alto do muro, / Alguém imóvel, alguém negro / Numera os homens sem barulho. Eu, dos meus cimos, tudo ...»
«Noite. Fanal. Rua. Farmácia. / Uma luz estúpida e baça. / Ainda que vivas outra vida, / Tudo é igual. Não há saída. Morres — e tudo recomeça, / E se repete a mesma peça: / Noite — rugas de gelo no canal. / Farmácia. Rua. Fanal.»
«1 Noite negra. / Neve branca. / Vento, vento! / Gente vacila na treva. / Vento, vento — / Varrendo toda a terra! O vento escreve / Na neve branca. / Gelo — embaixo da neve. / É liso, rente: / O pé que passa / Desliza ...»